sexta-feira, 8 de abril de 2011

A trajetória do assessor celeste - parte 1

Isabella Rocha


Diretor de comunicação do Cruzeiro Esporte Clube desde 2007, o jornalista Guilherme Mendes possui uma vasta carreira no setor. Já atuou como repórter esportivo da TV Globo Minas e repórter geral do SBT, em São Paulo. Formado em Jornalismo pela UFJF, em 1988, Mendes concedeu uma entrevista ao Futblogger Mineiro falando sobre o seu trabalho de assessor de imprensa dentro do clube mineiro.


Futblogger - Como funciona a assessoria de imprensa dentro de um clube de futebol e que ações ela desenvolve?


GM - A maior função da assessoria de imprensa é poder, exatamente, atender a demanda que os veículos de comunicação têm. Diariamente a gente tem aqui cerca de 16 veículos de comunicação que acompanham o nosso dia-a-dia e, além de fazerem a cobertura das nossas atividades nos campos da Toca da Raposa, eles também têm necessidade de obter informações no que diz respeito a bastidores do clube e atletas. Então, cabe à assessoria de imprensa fazer essa ligação entre o clube, os jogadores e a comissão técnica com a imprensa. É um atendimento, uma parceria. A assessoria de imprensa de um clube de futebol é um pouco diferente da empresarial. Muitas vezes a empresa quer ser notícia, o clube de futebol já é notícia todos os dias. A imprensa vem até o clube buscar informação e compete a gente abastecer essa demanda. Nem tudo que é publicado e divulgado parte da assessoria de imprensa do clube; pelo contrário, esse nível de informação está restrito a 40%, no máximo. A imprensa por si só tem seus meios para correr atrás da notícia. Nós divulgamos o que é informação oficial do clube e aquilo que está dentro do nosso interesse, mas os veículos querem muito mais que isso. O clube precisa reter um pouco, mas há embates e choques no relacionamento. Por exemplo, estamos em período de negociação, se nós começarmos a divulgar muito cedo o interesse em determinado atleta, fatalmente, outros clubes também se interessarão por ele. A negociação nunca é feita em um dia só, ela se arrasta para a decisão de uma série de detalhes e se a informação vaza, esse jogador vai entrar em um leilão. Então, o clube se resguarda, não pra prejudicar o trabalho da imprensa e sim para atender a necessidade interna.


Futblogger - O que é feito na comunicação interna do clube?


GM - A comunicação interna é feita pelo departamento de marketing e relações públicas. Nós temos uma participação pequena. Aqui, temos uma intranet para todos os funcionários do clube e um jornalzinho de circulação interna que precisam ser melhorados. Temos projetos para poder incrementá-la e aumentá-la, pois ela é fundamental. Trabalhei durante um tempo em uma produtora chamada Talentos, que produzia o telejornal da Gerdau Açominas e achei fantástico o trabalho de circulação interna deles. Eles conseguiram praticamente dobrar a produção da usina sem contratar novos funcionários, apenas com a comunicação.


Futblogger - Quais são os maiores desafios que você enfrenta?


GM - O maior desafio é quando enfrentamos as crises, quando o time não vai bem no campeonato. Talvez o momento mais difícil que eu tenha passado aqui foi quando o Cruzeiro perdeu a final da Libertadores em 2009. Isso causou um abatimento muito grande dentro do clube, os jogadores e comissão técnica sentiram muito. Algumas pessoas dentro do clube, estrategicamente, trabalharam para recuperarmos a nossa moral. No dia seguinte demos folga para todos os jogadores e na sexta-feira, quando voltamos aos treinos, tratamos de sacudir todo mundo. Falamos que o Cruzeiro é muito grande, não é uma final de Libertadores, temos uma história de 90 anos de conquistas e também de derrotas. Aquele foi um trabalho muito difícil, poucas vezes eu lidei com um grupo tão arrasado depois de uma jornada de trabalho. Nessas horas é preciso ter serenidade, não podemos trabalhar aqui dentro com o coração de um torcedor. Se eu quisesse ser apenas um torcedor, eu iria para a arquibancada. Aqui dentro a gente precisa ter a paixão pelo clube, mas você precisa ter discernimento, a cabeça no lugar. Ano passado, o Cruzeiro estava embalado no Campeonato Brasileiro, bem próximo de ganhar o título e perdeu um jogo importantíssimo contra o Atlético, que trouxe um momento muito ruim. Depois perdemos aquele jogo contra o Corinthians, em São Paulo, em que a arbitragem foi muito prejudicial ao Cruzeiro. Quando eu cheguei ao vestiário parecia que estávamos em uma praça de guerra, tamanha revolta dos jogadores e da comissão técnica. Por dentro, eu também estava muito revoltado, só que não me cabia naquele instante ter a mesma reação que os atletas. Eles estavam no calor do jogo, tinham discutido com o árbitro, então o meu papel foi de acalmar todo mundo. Tínhamos que ir para uma entrevista coletiva e eu queria que as pessoas fossem o mais ponderada possível, mas ainda assim, o Cuca deu um soco na mesa e o presidente ofendeu o árbitro. Por mais que você fale, é impossível controlar a reação do ser humano. Eu posso orientar, não posso colocar a palavra na boca da pessoa, esse é um trabalho muito intenso. Antes do jogador ir pra entrevista, damos uma sabatinada nele, falamos a linha que ele deve seguir. O Cruzeiro é um clube muito profissional e de diálogo de pessoas abertas e que aceitam ouvir sugestões e críticas.


Futblogger - Como é o seu dia-a-dia?


GM - Eu chego por volta de 8hs e a primeira coisa que eu faço é ler os e-mails. Normalmente, já recebo uns dez e-mails de necessidades da imprensa, de veículos com novas demandas. Depois dou uma passada nos principais sites de notícias esportivas. Leio o clip eletrônico, que faz uma cópia das matérias que saem nos principais jornais do país, no que diz respeito ao Cruzeiro. Quando tem alguma atividade ou treino, vou até o vestiário e pergunto ao treinador se tem alguma coisa que ele gostaria que fosse divulgada, converso com o supervisor e diretor de futebol. Pego as informações básicas e vou atrás de alguma pergunta que já foi feita sobre a gente no começo da manhã. No horário do almoço, acompanho os programas esportivos no rádio e na televisão. A televisão fica ligada o dia todo, mas como não fico o tempo todo na sala, tenho uma equipe que me ajuda neste monitoramento. À tarde, volto a conversar com a diretoria e o treinador, acompanho o treino bem de perto e vou para a entrevista coletiva. O trabalho não para, é telefone tocando e e-mail chegando, o celular é minha maior ferramenta de trabalho. Muitas vezes, trabalho o dia todo sem estar presente na Toca, até em casa, mas é no telefone celular que eu atendo as pessoas, uma média de 30 ligações por dia. Tem que ter paciência (risos).


Futblogger - O que a imprensa mais cobra de você?


GM - A notícia em primeira mão, a notícia dos bastidores. Eles querem saber o que está se passando dentro do clube. O futebol é diferente de qualquer outra atividade, ele dá muita satisfação e a gente conta quase tudo que acontece. Se a imprensa vê que entrou alguém diferente aqui no hotel, eles querem saber quem é, se é empresário de jogador, se vai haver compra ou venda de algum atleta. Eles têm uma curiosidade muito grande, e a gente entende. Eu também já trabalhei em veículo de comunicação e eu sei como isso funciona, só que às vezes isso é muito ruim pra gente e causa um desgaste.

Um comentário:

  1. Isabella está muito interessante essa entrevista com o Guilherme Mendes. Parabéns, continue correndo atrás de seus objetivos =)
    beijos

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